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Qual foi a última vez que você se jogou em uma aventura?


No final do ano passado, Marina Bidoia ficou sabendo de um barco que precisava de tripulação para uma travessia do Uruguai até o Caribe, trajeto deveria ser feito no menor tempo possível. O comandante, um polonês chamado Leszek Stankiewicz, atualmente residindo no Canadá, iniciou sua viagem pela América Latina em 2019 e precisou parar sua viagem em Piriapólis por quase 1 ano.

Com as restrições da pandemia mundo afora, e a chance de ficar preso de novo, Leszek queria levar seu barco para casa o mais rápido possível, e isso incluía atravessar o Brasil com poucas paradas para descanso durante o Natal e o Ano Novo. Os únicos problemas eram que ele não conhecia ninguém no Brasil, estaria entrando como estrangeiro no país e não possuía tripulação. Foi aí que Marina entrou na história.



Marina veleja com a alma e o coração, e faz lindos registros disso em seu Instagram, tendo muita experiência em barcos de classes oceânicas assim como naqueles sem classe definida.


A pressa do polonês para chegar em casa fez com que a viagem ocorresse na época errada, então antes mesmo de iniciar o percurso, já se sabia que não seria uma tarefa fácil. Querendo atravessar o país do Sul para o Norte, as 2.835 milhas foram percorridas com ventos no sentido Norte-Sul, o que gerou condições que dificultaram um pouco a viagem. Assim, por exemplo, a perna de Abrolhos para Salvador, que deveria demorar 3 dias, demorou 6.

“Acontece que nesse trecho, o vento virou completamente na nossa cara, mal dava para manter um ângulo de 30° em relação ao vento, então a gente abria muito a cada bordo. Assim, numa perna faltavam 60 milhas, quando a gente cambava faltavam 80, na próxima cambada, 75 milhas. Olhávamos e estávamos andando a 7 knots, pensávamos “Que beleza”, mas olhando o rumo, não compensava. Vetorialmente, foi um dos momentos em que mais andamos, mas não era na direção que precisávamos. Com certeza as 300 milhas que precisávamos percorrer viraram 600, e da mesma maneira, 3 dias tornaram-se 6”, conta Marina.

Durante uma viagem dessas, percebemos que algumas coisas básicas do nosso dia a dia, tão naturais e automáticas quando se está em terra, são mais relevantes do que pensamos. “...isso a Tamara falou em uma das palestras dela e percebi como era verdade. O banho é um marco temporal no nosso dia, e quando você não toma banho, parece que os dias se emendam e você já não sabe mais quanto tempo passou”. Em alto mar, a noção de tempo toma uma proporção diferente. O que mais importa é o horário do seu próximo turno, e já não se sabe mais, e nem faz diferença, se é dia ou hora útil em terra firme. “Quando chegamos a Salvador, liguei para o cara do porto a 1 da manhã do domingo e para mim era mais um momento normal daquela rotina que eu estava vivendo”.


“Quando chegamos ao Rio, não tínhamos tripulação para seguir”.


A embarcação de 42 pés chegou a velejar com combinações de 2, 3 e 4 pessoas a bordo, sendo a Marina e o comandante os únicos que permaneceram em todas as pernas até o barco deixar o Brasil. Além do perrengue inerente a uma viagem dessas, achar tripulação estava mais difícil pois a viagem foi feita bem em época das festas de final de ano.

“Quanto as tripulações, íamos montando conforme as pernas e a disponibilidade e boa vontade de amigos e conhecidos. Por causa de um problema no nosso motor, Leszek gastou um dinheiro que não estava previsto e ai não conseguiu pagar a prometida passagem para a tripulação que iria fazer a perna para o Rio, e eles cancelaram de última hora. Aí é aquela coisa, fomos indo atrás de quem estivesse a fim de encarar um perrengue desses. Achei duas mulheres maravilhosas que não tinham tanta experiência de vela, querendo embarcar para aprender, e acabaram encarando situações como um motor quebrado, velas rasgadas, todas as condições possíveis de vento... E é isso que acontece nessas viagens”


Registros feitos pelos diferentes velejadores que estiveram a bordo do Star Spengeld.


“Ficamos velejando a 0.7 knots por um dia inteiro. Sabe o que é isso? Quando andávamos muito era 1.2 knots, e estávamos com o motor quebrado. Estávamos a mais de 20 milhas da costa, então não tínhamos sinal. É aí que saem os textos, as reflexões... Foi aí que li 3 livros na maior velocidade da minha vida.”

Mesmo com o tempo ocioso e o tédio que acompanham travessias como essa, o mais valioso em qualquer navegada é aquele momento completamente aleatório em que se olha para o mar e o corpo é preenchido pela sensação maravilhosa de “não tem nenhum outro lugar no mundo que eu escolheria estar agora do que aqui, no meio do mar”.

Por um desencontro de datas e pelo agravamento da pandemia, com voos sendo cancelados durante dezembro e janeiro, Marina só pode participar da viagem até certo ponto, não seguindo com a tripulação até o Caribe. Na parte da viagem que ela esteve presente, foram 7 paradas até Recife, 8 velejadores que participaram da travessia e incontáveis histórias inesquecíveis.



Velejadores que participaram da viagem e suas respectivas pernas:

1 - Piriapolis - Ilhabela: 1025 milhas, 8 dias, 4 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Vinícius Degrave

Maurício Vicente Cabral


2 - Ilhabela - Rio: 150 milhas, 2 dias, 3 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Vinícius Degrave


3 - Rio - Ilha Grande - Rio: 120 milhas, 2 dias, 2 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo


4 - Rio - Vitória: 350 milhas, 3 dias, 4 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Fernanda kienitz

Julia rayes


5 - Vitória - Abrolhos: 270 milhas, 3 dias, 3 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Fernanda kienitz


6 - Abrolhos - Salvador: 450 milhas, 6 dias, 3 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Fernanda kienitz


7 - Salvador - Recife: 470 milhas, 5 dias, 4 pessoas a bordo

Leszek Stankiewicz

Marina Bidoia Gerdullo

Adam

Josef

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